Encerrado o jogo com o Vitória, estava definitivamente instalado o debate sobre a dificuldade do Botafogo para fazer gols quando se vê diante de defesas fechadas. O diagnóstico é impulsionado por outros três empates, contra Criciúma, Cuiabá e Atlético-MG, times que congestionaram a entrada da própria área. Ocorre que o rótulo pode nos conduzir a um perigoso reducionismo num tema que é mais complexo.
Qualquer time do mundo terá mais dificuldade de balançar as redes diante de um rival disposto a acumular jogadores na frente do gol. E fosse o alvinegro incapaz de resolver tal questão, não teria chegado a este fim de temporada em condições de ganhar Brasileiro e Libertadores. O que propôs o Peñarol, por exemplo, na noite em que terminou goleado por 5 a 0?
Os quatro empates recentes não foram partidas iguais, embora pareçam. Há uma métrica, o Xg — ou gols esperados —, que mede a probabilidade de cada finalização resultar em gol. Ela permite determinar quantos gols seria provável um time marcar num jogo. O alvinegro acumulou um Xg de 9,22 nos quatro empates recentes. E fez apenas dois gols, após ter finalizado 106 vezes contra os rivais. Ou seja, produziu o suficiente para vencer todas as partidas.
Contra o Criciúma, criou chances claras. Diante do Cuiabá, Júnior Santos teve o gol aos seus pés, e a bola foi salva sobre a linha com meio time rival defendendo a área. Contra Atlético-MG e Vitória, aí sim, a produção ofensiva caiu. E há muitos fatores a pesar, não é possível reduzir a discussão a determinar que o Botafogo vá travar sempre que se vir diante de uma retranca. Porque essa não foi a história da temporada.
O 2023 nos induz a debater temas emocionais, algo complexo para um observador externo. Mas um time que faz uma temporada tão boa num clube tão machucado merece crédito. Só é impossível dissociar questões mentais da atividade esportiva ou da vida. O Atlético-MG jogou com a urgência alvinegra em Belo Horizonte. E ontem Artur Jorge se viu obrigado a convocar uma coletiva para assegurar a estabilidade do elenco. Sinal de que não se trata de assunto menor. O mental é uma das dimensões do jogo.
Outra questão é tática. Todo líder é estudado, visado. O Botafogo de Artur Jorge é especialista em alternar ritmos, trocar passes mais lentamente na defesa até atrair a marcação rival e, na sequência, acelerar no espaço às costas dos meias adversários. Hoje, quem enfrenta o alvinegro é mais cuidadoso com isso. E se depara com um time submetido a muitos jogos decisivos na reta final. Algo que cobra um preço de um elenco que, hoje, cede até sete jogadores para seleções. E aí entra outro ponto de atenção.
A obrigação de rodar o elenco não tem permitido manter a harmonia do time titular. Juntos, Almada e Savarino se completam na armação. Sem um deles, o outro se vê sobrecarregado. Eles estavam juntos contra Criciúma e Cuiabá, mas Savarino não enfrentou o Atlético. Contra o Vitória, Tchê Tchê não compensou a falta de Marlon Freitas na distribuição e na marcação. Luiz Henrique é dificílimo de substituir, e Igor Jesus não vive o melhor momento.
O Botafogo começa o que pode ser a maior semana de sua história, em duas decisões que podem apresentar cenários distintos. Contra o Palmeiras, os espaços para acelerar devem aparecer. Já o Atlético-MG deu indícios, há uma semana, de que pode se adaptar e apostar na proteção da área. Sejam mentais ou táticos os desafios, o maior trunfo do Botafogo é encontrar seu melhor jogo: ao longo do ano, o time jogou melhor futebol que Palmeiras e Atlético-MG. Não é uma garantia para a hora decisiva, mas é sinal de que algo sólido foi construído.
A QUEDA
Claro que o Vasco não vinha jogando bem. Mas a queda de Rafael Paiva mostra como é frágil a figura de um treinador jovem e em busca de projeção. O clube tem imensas limitações financeiras, fez uma janela de meio de ano que não supriu necessidades importantes e trouxe jogadores distantes da melhor condição física. Mas foi Paiva, responsável por melhorar o time após assumir o cargo, o alvo das cobranças e a vítima da vez.
VITAL
Para não transformar as três rodadas finais numa calamidade, o Fluminense precisa vencer o Criciúma hoje. Chama a atenção como o time se distanciou da fórmula que o fez crescer após Mano Menezes assumir. Era sólido defensivamente, vigoroso e rápido no ataque. As formações recentes têm deixado o time mais vulnerável, com um meio menos combativo. Substituto de André, Bernal não pareceu ter convencido o treinador.
O PAPEL DE RODRI
É possível achar que Vinicius Junior merecia a Bola de Ouro, e que a questão racial foi parte do processo. E, ao mesmo tempo, reconhecer o nível de Rodri. A escandalosa crise do Manchester City não se explica apenas pela lesão que tirou o volante da temporada. Mas a dificuldade de controlar jogos mostra que Vinicius não perdeu para qualquer um: Rodri é vital no time que foi o melhor do mundo nas últimas temporadas.
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