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Cidades CALOR RECORDE

Boa Vista bate recorde entre as capitais que teve maior aumento de temperatura no Brasil

30 cidades do país a temperatura subiram mais de 3ºC em 2024 diante da média dos últimos 80 anos

17/01/2025 09h13 Atualizada há 6 meses
Por: Ribamar Rocha Fonte: Ana Lucia Azevedo – O Globo
Foto: Getty Images via BBC/Arquivo
Foto: Getty Images via BBC/Arquivo

O Brasil ferveu em 2024, mas São Paulo, Paraná e partes da Amazônia torraram ainda mais. Municípios paulistas e paranaenses chegaram a até 3,2ºC a mais do que a média da temperatura anual do período de 1940-1970, o mais distante que se consegue avançar no Brasil sem perder a confiabilidade, explicam cientistas.

Uma análise exclusiva realizada pela pesquisadora Ana Paula Cunha, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), calculou a anomalia de calor na temperatura média dos municípios em 2024 em relação à média histórica.

No ano passado, o mundo enfrentou o maior calor da História e superou pela primeira vez 1,5ºC de elevação emrelação à temperatura média do período pré-industrial, marca considerada crítica para o equilíbrio climático.

— Nossa análise não se refere ao período pré-industrial porque a incerteza seria muito grande frente à escassez de dados. Mas se vê claramente que os anos de 2023 e 2024 só potencializaram uma tendência de aquecimento que já ocorria há décadas — salienta Cunha.

 

O novo cálculo foi realizado por meio da combinação de bancos de dados baseados em informação de satélites e medições. A pesquisadora usou como base os dados do ERA5, do serviço climático europeu Copernicus.

Pedrinhas Paulista (SP) lidera o ranking de fervura com 3,24ºC, seguido pelos vizinhos Florínea (SP, 3,22ºC), Sertaneja (PR, 3,22ºC) e Cruzália (SP, 3,21ºC). Municípios da região contígua do norte do Paraná e do oeste de São Paulo praticamente se alternam no ranking dos 30 municípios com aumento de 3ºC acima da média de temperatura nos últimos 80 anos. Apenas dois não ficam lá: Caracaraí, em Roraima, em 25º lugar; e Barcelos, no Amazonas, em 30º.

— O território brasileiro não aquece de forma homogênea. É um país continental e algumas áreas esquentam mais do que outras por uma série de fatores — sublinha Cunha.

Nada menos do que 975 municípios tiveram aumentos de 2ºC a 2,99ºC, em sua maioria no Sudeste e Sul (Paraná). São Paulo e Paraná mais uma vez lideram a fornalha com, respectivamente, 454 e 220 municípios. Depois vem Minas Gerais, com 159.

O Espírito Santo ficou em quarto, com 49; e o Mato Grosso do Sul em quinto, com 41. Vêm na sequência Amazonas (16), Acre (12), Roraima (11), Rio de Janeiro (dez) e Pará (três). O aquecimento de 1,5ºC a 1,99ºC foi apontado em 1.318 municípios. Mas em quase todo o país houve algum grau de aquecimento, diz Cunha.

O meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador de operações do Cemaden, frisa que os números assustam. Segundo ele, o excesso de calor é resultado da combinação de fatores globais, como o aumento de temperatura devido às mudanças climáticas e ao El Niño, e aspectos locais, como significativa parte do território desmatada e ocupada por plantações, pastagens ou simplesmente terras de solo degradado.

— Meio grau Celsius acima da média do ano todo já é muito. Mas tivemos alguns lugares com mais de 3ºC acima da média do ano. É uma barbaridade — afirma Seluchi.

No Sudeste, no norte do Paraná e no sul do MS o calor está relacionado à escassez de chuva. E pesaram as muitas ondas de calor. Elas foram associadas à falta de frentes frias, retidas no Sul, em boa parte devido ao El Niño. O fenômeno concentrou a precipitação no Sul e tem forte relação com as catastróficas chuvas que em maio devastaram o Rio Grande do Sul.

Além disso, as ondas de calor foram muito frequentes e intensas numa região que já costuma sofrer com calor e baixa umidade. Possui ainda elementos que favorecem a elevação da temperatura, como continentalidade (não tem o alívio da umidade do mar) e vastas áreas desmatadas e ocupadas por plantações e pastagens.

— Vegetação nativa retém mais umidade do que áreas assim — explica Seluchi.

Quando há baixa umidade, a maior parte da energia solar que chega à superfície é convertida em calor, elevando a temperatura do ar. Toda a área da Bacia do Paraná, intensamente afetada pelo excesso de calor, desde 2020 passa por seca recorrente.

Partes da Amazônia ficaram mais de 2ºC acima da média e isso também tem a ver com a falta de chuva. E nesse caso, afirma Seluchi, o excesso de calor está relacionado, sobretudo, à falta de chuva e de nebulosidade. O ano passado foi extremamente seco na Amazônia, em parte devido ao El Niño, em parte ao Atlântico com temperaturas acima da média.

Ana Paula Cunha, que é especialista em secas, observa que o excesso de calor não atingiu as mesmas regiões em 2023 e 2024. As exceções são o Pantanal e o sertão de Minas e da Bahia, tórridos — em média, 2ºC acima — nos dois anos mais quentes já registrados.

Cunha enfatiza ainda que a seca nas regiões mais aquecidas em 2024 tem conexão. Pois os chamados rios voadores transportam umidade da Amazônia para os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Se a Amazônia sofre com a seca, as consequências são sentidas nas áreas que dependem da umidade proveniente dela.

Embora a análise tenha sido realizada por município e abranja períodos em que alguns deles não existiam formalmente, isso não faz diferença. O motivo é que o território brasileiro é analisado em sua totalidade, divido em células, independentes da divisão geopolítica. Só depois de pronto, o mapa geopolítico é sobreposto e realizado o cálculo pela área ocupada por cada município.

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