Olhar para o passado lança luz sobre a nossa história. Isto é o que defende Rosineide Gama, gestora da Escola Estadual (EE) Marechal Hermes e autora do livro “Dias Mefistofélicos”, publicado, neste ano, pela editora Dialética. A obra, resultado da dissertação de mestrado de Rosineide, pela Ufam, apresenta um panorama da gripe espanhola em Manaus, nos anos de 1918 e 1919.
A pesquisa que resultou no livro foi feita com base em documentos e arquivos públicos antigos, principalmente em jornais da época. “Costumo brincar que não achei a gripe espanhola, ela que me achou. Quando cursava minha graduação em História, pela UniNorte Manaus, integrei um projeto de iniciação científica que consistia no levantamento dessa documentação, entre os anos de 1910 e 1924. Foi ali que me deparei com as primeiras publicações sobre a pandemia, em Manaus”, revelou a gestora.
De acordo com ela, a questão da desestruturação social, ocasionada pela gripe espanhola, foi um dos pontos que mais lhe chamou a atenção. “Vi a loucura que foi ali, as mortes não foram democráticas. Dentro da análise, constata-se que quem mais morreu em virtude da pandemia foram os pobres e marginalizados, aqueles que habitavam a periferia e tinham menos recursos para a aquisição de medicamentos”, pontuou.
Outra curiosidade percebida por Rosineide, durante a pesquisa dos periódicos, foi o medo da morte que se instaurou na capital amazonense. “Havia uma preocupação pela perda dos laços afetivos, fossem eles com familiares, amigos ou vizinhos. (…) Os meses de outubro, novembro e dezembro de 1918 foram os mais difíceis. Os jornais relatavam a quantidade de corpos espalhados pelas ruas”, destacou.
Com “Dias Mefistofélicos”, a autora diz ser possível traçar um paralelo entre a pandemia da gripe espanhola e a da Covid-19. Em ambos os casos, por exemplo, foram suspensas atividades como aulas e comércio. O distanciamento social, uma das principais medidas de enfrentamento ao novo coronavírus, também se mostrou eficaz em 1918/1919.
“Nesse sentido, devemos olhar e compreender esse passado para que, em certa medida, possamos aprender com ele”, completou a gestora.
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A dissertação de Rosineide Gama que resultou em “Dias Mefistofélicos” é citada no livro “A bailarina da morte: A gripe espanhola no Brasil”, da historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz. Lançada no último ano, a obra busca identificar a trajetória e os impactos da doença no País, mapeando a evolução do contágio do vírus desde as cidades litorâneas às capitais e analisando os fatos que contribuíram para a sua rápida disseminação.
Para o seu trabalho de doutorado, também pela Ufam, Rosineide Gama espera expandir “Dias Mefistofélicos”, analisando, agora, os efeitos da gripe espanhola nos municípios do interior do Amazonas. A pesquisa, no entanto, ainda está em fase inicial.
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